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Blog da Professora Terezinha
Graduada em Pedagogia. Pós-Graduada em Educação Pré-Escolar. Pós-Graduada em Administração Escolar. Atualmente Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e Ensino Fundamental I no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Lavras - MG.
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domingo, 8 de fevereiro de 2015

postheadericon E SURGEM AS MORDIDAS...

 

Surgem as mordidas... Como podemos entendê-las?
De quando em quando, dentro da dinâmica escolar, o assunto vem à tona: crianças são mordidas e pais ficam preocupados. Na tentativa de ajudar a entender essas manifestações, produzimos este texto sobre características da faixa etária, o contexto em que acontecem as mordidas e qual é a postura da Escola em relação a elas.
Até os 2 anos, a criança ainda tem na sua boca uma das grandes fontes de descobertas. Do brinquedo à pedra, passando pela chupeta, tudo ela leva à boca, para experimentar e para dela retirar sensações diversas. Chupar, morder, sugar, degustar, emitir sons, inspirar e expirar são ações que dão prazer e também pelas quais pode relacionar‑se com o mundo externo.
Os dentes que estão despontando na gengiva coçam e afligem a criança nesta fase. Outro fato a se considerar é que as crianças até três anos frustram-se com facilidade e têm pouco controle sobre seus impulsos.
No entanto, considerar somente estas características é pouco. É preciso olhar com atenção o contexto em que vive a criança. O próprio fato de ingressar na escola traz consigo vários desafios de adaptação como, por exemplo, sair de um ambiente familiar e seguro para um outro ambiente mais amplo e desconhecido. Tanto o aluno como seus pais estão à procura de uma abertura para mudanças, mas uma certa ansiedade em relação ao novo sempre aparece.
Dentro da rotina da escola, em quais momentos aparece a mordida?
Para as crianças dessa faixa etária, compartilhar ainda é difícil, já que o outro não é percebido como diferente delas próprias. O outro só existe em função de seu desejo. Na hora de disputa por algum objeto ou pela companhia de alguém, aparece o conflito seguido da sensação de perda. O desconforto deste sentimento é algo que ainda não pode ser compreendido e, na ânsia de livrar‑se dessa situação, agem rapidamente usando seu corpo. O corpo é aquilo que lhes é mais conhecido, sobre o que têm algum controle, e a boca, o foco de sua expressão. Nessa conjuntura, acontece uma mordida.
Mais raramente, pode ocorrer de alguma criança ficar muito cansada ou com sono e, também, diante deste desconforto, irritar‑se e morder.
Há, também, a mordida como manifestação de contato. Quando começam a despertar para o fato de que existem outras crianças, quando vão se conhecendo melhor e criando vínculos, aparece uma mistura de união e empurrão, beijos e abraços apertados com mordida e beliscões. Não podemos esquecer que muitos pais dão pequenas mordidas nos filhos como forma de carinho.
A reação do outro é também algo que estão explorando e experimentando. Muitas vezes são surpreendidos por essa reação por não terem a real dimensão da dor provocada. É comum assustarem‑se e chorarem junto com o outro.
Morder é sinal de agressividade?
Na maioria dos casos, não há intencionalidade ao morder, ou seja, a criança não planejou a ação. Como já foi dito, a mordida pode ter saído de um abraço apertado ou como forma de aliviar um desconforto do momento. Porém, a mordedura é a primeira pulsão agressiva das crianças e pode estar representando uma zanga, um ciúme ou uma autoafirmação. Como nessa faixa etária ainda não conseguem dosar sua força ou até seus impulsos, às vezes podem assustar os adultos.
O processo natural de desenvolvimento
Podemos entender a mordida como expressão da combatividade da criança. Combater para conseguir o que quer, usar uma força interna para conseguir algo por conta própria faz parte do desenvolvimento infantil. Com essa compreensão, cabe ao adulto mostrar as formas socialmente aceitas como alternativa para esta manifestação. Em especial, através da linguagem verbal.
Incentivar o uso da palavra para negociações ou para expressão de sentimentos, nestas ocasiões de conflitos, é instrumentalizá‑la, é ajudá‑la a despertar para a fase seguinte no tocante ao controle das emoções e do desenvolvimento da fala. “Você ficou brava com fulano porque ele pegou seu brinquedo. Diga para ele: “Estou brincando agora, te empresto depois”. Fulano está chateado porque você o mordeu. Vamos lá pedir desculpas e fazer um carinho nele”. Tudo isso faz parte de um aprendizado de cunho social que demanda certo tempo para ser internalizado pelas crianças. Dentro desta fase, quanto menor a ansiedade que gerarmos, mais tranquilamente ela passará.
No entanto, precisamos deixar claro para aquelas que mordem que esse seu ato não é positivo, que como adultos não podemos permitir que elas machuquem outras crianças. Quando for necessária uma colocação mais firme, devemos verbalizar que combater pelo que se quer não é errado, mas a forma como isto foi feito.
Como é trabalhado na Escola
Quando começam a surgir mordidas, podemos atuar individualmente e em grupo. Em termos individuais, observamos quais dificuldades as crianças estariam apresentando tanto para se relacionar, para combater, para se expressar ou até para se defender. Na hora de intervir, levamos em conta que, tanto aquele que foi mordido como o que mordeu, necessitam de nossa atenção; seja para um carinho e um consolo, seja para que o ajudemos a enxergar outras maneiras de expressar desconforto e descontentamento. “É melhor você dizer ‘eu não gostei’, ‘estou muito bravo’ ou ‘agora é a minha vez’”.
Precisamos ressaltar que o referencial do adulto é muito importante. Por causa do vínculo afetivo que o une à criança, o adulto será o modelo onde ela buscará as formas socialmente aceitáveis para negociar a posse de um objeto, a sua vez de brincar, como expressar sentimentos e desejos.
Em grupo, podemos verificar qual momento social a criança está vivendo e se está bem integrada. Conversas na hora da roda, atividades coletivas de sensibilização da boca, oportunidade para compreensão da força dos dentes, como morder alimentos resistentes são alguns dos recursos que podemos utilizar no nosso trabalho.
Também envolvidos nesta questão, temos os pais dos alunos que também precisam de acolhida. Não é fácil receber a notícia de que seu filho foi mordido, muito menos conviver com algumas marcas no seu braço. Algumas vezes chegam a perguntar: “Quem fez isto com meu filho?” Quando isso acontecer, as professoras procurarão colocar a situação de uma forma clara, porém sem citar nomes, para não expor ninguém desnecessariamente. Do outro lado, estão os pais da criança que mordeu. Eles poderão se constranger ou ficar aflitos com o acontecido. Para todos, nossos professores  e a coordenação  oferecerão apoio para ajudar a entender e a superar esta fase pela qual estão passando as crianças.
Em suma, as mordidas são manifestações que podem acontecer durante uma fase do desenvolvimento infantil. Como adultos, podemos ficar atentos ao contexto, às dificuldades e intervir sempre que necessário, mostrando opções mais adequadas para a criança se expressar ou buscar o que quer.


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